segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Mãe é chaaaata!

Minha amiga Fernanda está “curtindo” os primeiros meses de gravidez enjoando dia e noite. Minha amiga Karen carrega sua pequena Júlia nos braços há poucos dias e já foi aconchegar-se na casa da mãe para poder dormir um pouco. Minha sobrinha Priscilla, na reta final de sua gravidez, se arrasta para completar o enxoval.
Queria escrever aqui no blog algo sobre a maternidade que as animasse um pouco. Pretendia falar de como é ter sua vida transformada, ressignificada, só porque aquela "pessoinha" ali existe, mas mudei de idéia.
A inspiração veio hoje, quando tive que tomar uma pistola de água do Mateus. Fui eu mesma quem comprei o brinquedo para ele, ainda ontem. Devia saber que ele ia molhar pessoas vestidas à beira da piscina (qual a graça de molhar quem já está molhado?). Assim foi, independente dos milhões de avisos e ameaças que fiz antes de sair de casa, ele me desobedeceu.
Lembrei de uma crônica que Rubem Braga escreveu dedicada ao Dia das Mães. Nela, ele conta a história de uma Mãe que, de repente, na praia, dá por falta do filho. Palavras de Hélio Pellegrino: “Catastrófica, amputada, a mãe hasteia o seu supergrito de desespero e horror: todo o mundo, siderado, põe-se a procurar o afogado, em rebuliço, em pânico, em convulsões e preces, até que o Joãozinho aparece lampeiro, com um sorvete na mão. A mãe, com um tapa, quase derruba sorvete e filho — "menino desgraçado!" —, e a este, trombudo, humilhado, só resta o recurso de murmurar, entre dentes: ‘Mãe é chaata...’ ".
Lembrei porque foi exatamente isso o que eu ouvi o Mateus dizer hoje. Resultado: ele está sem o brinquedo e sem assistir TV durante a semana toda!Meninas, mãe que ama o filho é chata mesmo, preparem-se!
Para ler a imperdível crônica do Rubem Braga na integra:
http://www.releituras.com/rubembraga_mae.asp


sábado, 8 de setembro de 2007

Pousando

Eu ainda estava com uma daquelas vendas nos olhos, enfiada debaixo do cobertor, quando ouvi a voz do piloto: “Dentro de instantes pousaremos no Aeroporto Internacional de Guarulhos...” Fiz de conta que não era comigo e continuei cochilando. Afinal de contas, todo mundo sabe que “nestes instantes” muitas coisas ainda vão acontecer... O piloto vai aguardar autorização da torre, as comissárias de bordo vão passar de fila em fila recolhendo os fones de ouvido e pedindo a todos e a cada um dos passageiros para que: “Por gentileza coloquem o encosto de sua poltrona na posição vertical!” e, até que finalmente elas avisem que devemos permanecer sentados até que os avisos para apertar os cintos se apaguem (coisa que pouca gente faz), e nos lembrem que durante o pouso nossos pertences podem ter saído do lugar, muitos e muitos instantes nos distanciam do aeroporto.
Mal puxei novamente a venda sobre os olhos, meu marido cutucou meu braço e apontando para a tela a nossa frente, meio de boca aberta, disse: “Olha só!”. Demorei alguns segundos para entender que eu estava vendo o mundo a partir do rabo (com perdão da palavra) do nosso avião. Era ele mesmo - as luzinhas piscando, as asas, as turbinas – inconfundível. Fiz uma cara de: “Ah, tá!” e arrumei a venda tapando os olhos.
Passados alguns segundos, tirei definitivamente a venda e me ajeitei na poltrona. Não saber o que nos espera pela frente pode trazer certa insegurança, mas neste caso, no meu caso, saber é que causou.
Olhei para a tela, o avião estava dentro de uma nuvem densa. Eu sabia que mais ali na frente devia haver uma pista de pouso, mas meus olhos e os do piloto não estavam enxergando nada.
Básico: para achar nossos caminhos na vida precisamos de visão, audição, tato, olfato, paladar; temos que sentir onde nossos pés estão pisando; temos que estar presentes, concentrados. Na neblina, quando as coisas estão turvas, usamos a intuição, o nosso conhecimento anterior. Mas, e quando estes recursos faltam?
A consciência da vulnerabilidade tornou aqueles momentos mais difíceis do que de costume. Perguntei a meu marido: “Quem teve a idéia de que transmitir o pouso ao vivo ia ser legal?” - Para minha surpresa, ele estava achando bem legal.
A saída foi seguir os conselhos da nossa Ministra do Turismo, foi acreditar que os instrumentos poderiam “ver” o caminho e que realmente em “alguns instantes” sairíamos da nuvem e o horizonte estaria lá - novamente claro.
E assim foi. Quando a pista apareceu vimos o nariz do avião apontado certeiro para a faixa central. Pouso perfeito, sem solavancos – todos aplaudiram.

Ah! Então foi por isso que resolveram transmitir...
Lição de bordo: quem tem fé e confiança pode se deixar perder por uns instantes.