segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Quantos anos você tem?

























Minha avó faz 100 anos no próximo dia 26 de agosto. A família não agüentou esperar. No último sábado minhas primas fizeram uma grande festa, chamaram todos - netos, bisnetos, tataranetos e amigos de longa data (Ela ainda é amiga de pessoas que foram seus vizinhos há mais de 30 anos!).
Foi uma tarde inacreditável.
Minha avó tem a mente muito ativa. Gosta de ver os telejornais e discute política com uma agilidade de dar inveja. Eu olhava pra ela durante o aniversário e achava difícil acreditar que ela já tenha 100 anos.
Durante a festa percebi que os mais velhos guardam de nós (os relativamente mais novos) uma imagem mental de quando éramos beeem, beeem, mais jovens. Fui tratada como a caçulinha do José, várias vezes.
As pessoas paravam minha sobrinha e perguntavam se ela era a mãe dela e eu travei longas conversas como se fosse minha irmã mais velha, antes de criar coragem para desfazer o engano.
Outra descoberta foi a seguinte: tem gente que melhora com o tempo (minhas primas estão mais belas a cada ano), tem gente que nem tanto, mas o que você sente quando era criança diante de uma pessoa, raramente muda.
Minha mãe tinha uma amiga, Dona Nini, que hoje deve estar com uns 75 anos - ou seja, quando eu era pequena ela devia ter uns quarenta anos. Eu a achava M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A! Ela era uma mulher elegantérrima. Eu ficava hipnotisada pelas jóias que ela usava. Adivinhem como ela estava na festa? Chiquérrima! Dona Nini usava jóias belíssimas, modernas, e se sentava à mesa com a mesma elegância, inúmeras vezes lembrada por minha mãe quando queria que eu me comportasse durante uma refeição. Para mim não houve sequer uma leve mudança. Ela é a mesma. Sei que não é. Sei que o tempo passou, que ela se despediu de muitas pessoas queridas de lá para cá, e que isso deixa sim marcas no coração e no corpo. Mas os gestos, a voz baixa, pausada, estão eternizados em minha mente – imutáveis.
Fiquei um bom tempo olhando para outra comadre da minha mãe, minha tia Maria Olívia. Ela está com mais de 80, com certeza, mas eu também só conseguia me lembrar de como ela e minha mãe conseguiam ficar horas, horas e horas conversando e rindo sem parar. E lá estava ela na festa, sempre querendo engatar uma boa conversa. Ali estava outra mulher excepcionalmente refinada na minha mente. Eu só conseguia me lembrar de como eu ficava espantada quando a via comendo sanduíches com garfo e faca. Nem um tomate, nem uma folhinha de alface - ousava sair do lugar. Mulher de governador, depois mãe de senador, andava de um lado a outro do estado do Acre fazendo campanha – em cima do salto! Gente, vocês não tem idéia do calor e dos lugares onde ela se metia!
Estava pensando nisso quando cheguei em casa, liguei a TV e ouvi a propaganda da Revista Boa Forma deste mês: “Tânia Kalil revela seus segredos para chegar aos 32 em boa forma”. Tomei até um susto! Fala sério, quem precisa de um truque para ficar bela com 32 anos?
Quem tem segredos de beleza a revelar é minha Tia Maria Olívia, é Dona Nini, é Dona Maria Alaíde – minha avó centenária. Elas souberam envelhecer honrando suas histórias de vida – isso é que belo!

Na foto Vovó Maria pergunta à tataraneta Giulia - minha sobrinha-neta (é, eu sou tia-avó): Quantos anos você tem?

sábado, 1 de agosto de 2009

Sabadão

Sabadão...
Um dos raros em que acordo de manhã e não vou pro francês (as aulas só começam na próxima semana!).
Tomo meu café na cama, agarro um livro e fico lá...Feliz, deitada!
Meu filho então me chama: “Manhêêêê!!! Você já acordou? Vem ver uma coisa aqui!”.
Não respondo.
Meu marido está no banheiro, a babá está na sala e a cozinheira na cozinha, por que é que eu é que tenho que ver a tal coisa?
Ele insiste: “Manhêêê! Vem ver... É o Tai Lung (leopardo da neve, vilão do filme “Kung Fu Panda”)... nesta fase ele destrói tudo!.
Eu entendi tudo.
Meu filho está jogando vídeo-game e quer que eu levante para compartilhar com ele a emoção de ver um leopardo da neve destruindo um templo com socos, chutes - golpes de Kung Fu.
Levanto.
Vejo meu filho pulando em cima do sofá, imitando o Tai Lung e a ponto de destruir minha sala. Olho a tela da TV, comento alguma coisa sobre a habilidade do Tai Lung e peço: “Filho, não pula no sofá... Você pode se machucar e vai acabar estragando o estofado”.
Volto para a cama.
Minutos depois meu marido me chama: “Amôô, você já leu meu blog?”. Agarrada no livro solto um: “Ainda não....”. Ele grita de longe: “Leu?”.
Solto o livro. Pergunto:”Sobre o que você escreveu?” Ele começa a falar.
Tenho que ir até a sala para ouvir o que ele está dizendo.
Faço um comentário sobre o post dele.

Volto pro quarto, deito.

Dois segundos depois a cozinheira bate na porta: “Acabou a água do galão, posso pedir pro moço trazer outro?”.
“Pode, pega o dinheiro no potinho que fica em cima do micro-ondas!”. O que ela imaginou? Que eu ia dizer não?
Consigo agarrar o livro e ler umas duas páginas.

A babá do meu filho bate na porta e diz: “Você está lembrando que seu filhote precisa levar uma cópia da certidão dele pra escola na segunda-feira pro dever de história?”.

“Não, não tô. Corre ali na papelaria e tira pra mim, por favor!”.

O que raios a professora de história quer com a certidão de nascimento do meu filho?. Tento novamente ler meu livro.
Instantes depois, meu filho me chama - outra vez: “Manhêê! Traduz um negócio que o Tai Lung está dizendo aqui pra mim, por favor!”.
E lá vou eu, outra vez pra sala.


“I’m at home again, master!”. ”This is not your home anymore and I’m not your master anymore”. Filho, o Tai Lung diz: “Estou novamente em casa, mestre”. O Chifu responde: “Esta não é mais sua casa e eu também não sou mais seu mestre”.

Volto para cama.


Nem bem eu deito, meu marido me chama: “Amôô, me faz um favor???”

Eu levanto.


Vou até a sala e digo: “Gente, vocês não tem medo de eu abrir aquela porta e sumir no mundo não?”.

Meu marido me olha com cara de espanto e responde: “Se você sair assim, de pijama, sem pentear os cabelos e sem escovar os dentes eu não tenho não. Rapidinho alguém chama o SAMU e eu já sei que você vai parar - no HPAP ( Hospital de Pronto Atendimento Psiquiátrico)!”.
Sabadão...é melhor ouvir um negócio desses do que ser surda, né?

Eu reclamo, mas é muito bom saber que sou importante na minha casa...