sábado, 29 de dezembro de 2007

Passagem
























Lá se vai 2007...
Conheço gente focada no futuro. Pessoas que esperando o que está por vir, primeiro pensam: “Ôpa! Lá vem 2008!”.
Eu não. Primeiro tenho que me desapegar de 2007, para só depois entrar com os dois pés em 2008.
Fazer o quê? Sou uma pessoa apegada. Para vocês terem uma idéia: uma vez sonhei que morria e não queria sair do meu corpo...
Se meu filho vai dormir na casa da tia, todo feliz da vida, eu passo a noite rolando de um lado a outro da cama, arrependida: “Por que é que eu fui deixar?”.
Eu estou tentando melhorar... Tinha uma bota que estava comigo há mais de dez anos. Todo inverno eu a levava ao mesmo sapateiro e pedia para ele dar um geral nela. Em 2007 ele me disse: “Acho que está na hora da senhora dizer adeus a essa bota.” Insisti, pedi para ele fazer o que pudesse pela bota, que pensasse nela como uma espécie de paciente na UTI. Quando ele me entregou a bota em uma sacola, eu nem abri. Doei imediatamente. Mas, não sem sofrimento.
Pensem numa mulher brava – sou eu se minhas unhas estão lindas e maravilhosas e eu quebro uma delas.
Não era pra eu ser assim. Já perdi pai, mãe, irmã mais velha, meu melhor amigo.
Mas a verdade é que eu sou.
Por essas e outras, deixar 2007 para trás não vai ser fácil.
Meu marido disse que 2007 será lembrado como “o ano em que assinamos o contrato” (com a Via Engenharia). Penso que vou lembrar dele como o ano em que entrei na sala 32 do Museu Thyssen- Bornemisza, ou o ano em que visitei a Igreja da Sagrada Família e me apaixonei por Gaudi.
Na minha retrospectiva, 2007 será “o ano em que o Mateus aprendeu a ler”, mas bem que podia ser “o ano em que meu sobrinho-neto, o Paulo Rubem, nasceu”. E como esquecer que “2007 foi o ano em que meu sobrinho Erich entrou na UnB”?
Em 2007 eu comprei meu primeiro carro automático... Fiquei 12 dias de pernas pra cima na ilha do Ubaldo... Meu marido foi promovido, virou assessor...
Este ano (com “t” mesmo – não estou dizendo que sou apegada?) fiz novos amigos e criei Dona Encrenca para ficar mais perto dos velhos amigos.
Está sendo um ano bom...
Não é fácil dizer adeus ao que é bom, e às vezes, dizer adeus ao que é ruim também é difícil. Porém, é preciso saber a hora de deixar as coisas e as pessoas irem, seguirem seu caminho. Se nos agarramos a algo/alguém por mais tempo do que devemos travamos o fluxo da vida. Como um leito de rio indevidamente represado, a energia vital que não segue seu rumo, também causa estragos, sofrimento.
Em sociedade criamos rituais para marcar as passagens - o parto, o batizado, o aniversário, o vestibular, o casamento, a assinatura do contrato de compra de um imóvel ou dos papéis do divórcio, o enterro. O reveillon é um mais um desses rituais de passagem.
Cada um de nós, entretanto, tem seu jeito próprio de passar por esses rituais, cada um tem seu modo de dizer adeus.
Por mais que por vezes não saibamos como dizer o tal adeus, ou como seguir adiante sem falar nada, a vida acaba nos colocando na direção certa. Como um bebê que está no útero da mãe e de repente se sente empurrado para fora, somos impulsionados à mudança. Não sem dor, não sem esforço, de algum modo chega a hora do desapego, o momento em que percebemos que não dá mais pra segurar, temos que dizer: “Se tem que ser, então assim seja!”

Car@s amig@s, que assim seja! Que venha 2008!
Desejo a todos um ano de muita saúde, prosperidade e cheio de boas surpresas!



Este post é para minha cunhada - a Branca. Querida, o inverno vai passar e apagar a cicatriz!



Não aprendi dizer adeus
Leandro & Leonardo
Composição: Joel Marques

Não aprendi dizer adeus
Não sei se vou me acostumar
Olhando assim nos olhos teus
Sei que vai ficar nos meus
A marca desse olhar
Não tenho nada pra dizer
Só o silêncio vai falar por mim
Eu sei guardar a minha dor
Apesar de tanto amor vai ser
Melhor assim
Não aprendi dizer adeus mas
Tenho que aceitar que amores
Vem e vão são aves de
Verão
Se tens que me deixar que seja
Então feliz
Não aprendi dizer adeus
Mas deixo você ir sem lágrimas
No olhar, se adeus me machucar
O inverno vai passar, e apaga a cicatriz.(bis)



A foto que ilustra este post é a passagem megalítica de Knowth - condado de Meath na costa do leste da Irlanda.