
Mal puxei novamente a venda sobre os olhos, meu marido cutucou meu braço e apontando para a tela a nossa frente, meio de boca aberta, disse: “Olha só!”. Demorei alguns segundos para entender que eu estava vendo o mundo a partir do rabo (com perdão da palavra) do nosso avião. Era ele mesmo - as luzinhas piscando, as asas, as turbinas – inconfundível. Fiz uma cara de: “Ah, tá!” e arrumei a venda tapando os olhos.
Passados alguns segundos, tirei definitivamente a venda e me ajeitei na poltrona. Não saber o que nos espera pela frente pode trazer certa insegurança, mas neste caso, no meu caso, saber é que causou.
Olhei para a tela, o avião estava dentro de uma nuvem densa. Eu sabia que mais ali na frente devia haver uma pista de pouso, mas meus olhos e os do piloto não estavam enxergando nada.
Básico: para achar nossos caminhos na vida precisamos de visão, audição, tato, olfato, paladar; temos que sentir onde nossos pés estão pisando; temos que estar presentes, concentrados. Na neblina, quando as coisas estão turvas, usamos a intuição, o nosso conhecimento anterior. Mas, e quando estes recursos faltam?
A consciência da vulnerabilidade tornou aqueles momentos mais difíceis do que de costume. Perguntei a meu marido: “Quem teve a idéia de que transmitir o pouso ao vivo ia ser legal?” - Para minha surpresa, ele estava achando bem legal.
A saída foi seguir os conselhos da nossa Ministra do Turismo, foi acreditar que os instrumentos poderiam “ver” o caminho e que realmente em “alguns instantes” sairíamos da nuvem e o horizonte estaria lá - novamente claro.
E assim foi. Quando a pista apareceu vimos o nariz do avião apontado certeiro para a faixa central. Pouso perfeito, sem solavancos – todos aplaudiram.
Ah! Então foi por isso que resolveram transmitir...
Lição de bordo: quem tem fé e confiança pode se deixar perder por uns instantes.
Lição de bordo: quem tem fé e confiança pode se deixar perder por uns instantes.
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