Estive no Rio semana retrasada. Véspera de final de campeonato no Maraca - percebi que o Rio é mesmo a mais flamenguista de todas as cidades...
Tá, eu andei praticamente todos os dias pela Gávea e sou flamenguista. Meu olhar bem que podia estar “enviesado”, mas foi o que bastou para me dar uma sensação de pertencimento. O Rio é Flamengo. Eu sou Flamengo. Eu estou em casa! Doce ilusão....
O tempo estava chuvoso e eu andei muito de táxi. Ficava sempre olhando pela janela, tentando ver o que a cidade escondia.
Vi o campo do São Cristóvão. Emocionei-me ao ler, pintado no muro: “Aqui nasceu o Fenômeno!”. Semana ruim para o Ronaldo, não se falava noutra coisa. Os travestis davam entrevistas que eu ouvia pelo rádio. O locutor perguntava: “A Senhorita acha que suasss companheirassss de profissão de algum modo prejudicaram asss pessoasss que vivem desssssssse tipo de economia?”. Nos bares e restaurantes todo mundo comentava. Um flamenguista P-da vida esbravejava: “Fiquei irado! O cara vai pra delegacia pagar um mico dessses vestido com a camisa do Flamengo!”. A amiga indignada respondia: “Quiê quuiê isssso! Carioca, de Bento Ribeiro, não saber o que é traveco?”. Ninguém quer ver a imagem de seu ídolo borrada, maculada. Cariocas e brasileiros – estavam todos inconformados, indignados.
Foi uma viagem divertida, eu ria até de mim mesma. Com medo da dengue eu saia do hotel besuntada de repelente, usava botas e dava uma geral nos ambientes onde entrava. Cheguei a pensar se aquela água que fica nos vasos sanitários poderia ser considerada água parada? Cadê coragem de baixar as calças? Vai que o mosquito me pega bem naquela hora.
Pela primeira vez me hospedei em Copacabana. Sempre que eu ia ao Rio meus amigos descolados avisavam: “Não fica em Copa, lá tem muito turista e consequentemente muita prostituta, muito traveco e muito traficante!”.
O que percebi foi que Copa é um bairro de avôs e avós. Por lá eles resolvem tudo a pé. À noite tem mesmo muito de tudo. Chegando ao hotel, ainda dentro do táxi, passando pela beira mar, percebi que, a cada vinte metros, havia um cara usando um uniforme. Eram uns sujeitos sarados, negros, usavam camisas amarelo marca-texto onde se lia em letras pretas: “Experimente!”. Quis perguntar à amiga que estava comigo o que ela achava que eles ofereciam (letra “a” – sexo, letra “b” – drogas, letra “c” – letras “a” e “b” estão corretas), mas não perguntei, fiquei com vergonha do taxista.
Os taxistas mereciam um “post” à parte. A primeira coisa que eles querem saber quando você entra no carro não é para onde você está indo, é se você sabe onde está indo. Não adiantava dizer: “Copacabana, 995”. Eles queriam saber: “Em que altura?”. Eu ficava furiosa! Jesus Cristo – oh Redentor, esses caras não sabem contar? Rapidinho eu aprendi a dizer que era quase Miguel Lemos. Depois me aprimorei: “Entre a Miguel Lemosssss e a XXXXavier da Silveira”. Vocês acham que eles se davam por satisfeitos? Perguntavam: “A Senhora quer ir por onde?”. Minha vontade era dizer... Melhor não dizer...
Invejei as inúmeras salas de teatro, os ingressos bem bem bem mais baratos do que em Brasília.
Notei que as mulheres da minha idade são lindas, usam roupas de gatinha, mas seus rostos mostram que abusaram do sol num tempo em que bronzeador era: óleo de avião, óleo Johnson com urucum ou Rayito de Sol – uma pasta marrom que tinha que ser importada da Argentina. Filtro solar era uma expressão que não fazia parte do repertório das garotas cariocas suíngue sangue bom - ratas de praia. Agora essas senhoras pagam o preço.
Boa parte dos homens de mais de 40 anos andam pelas ruas vestidos como os jovens de 20 - bermudas compridas, tênis. Saíram da praia, mas a praia não saiu deles. Os cabelos ficaram brancos, caíram, mas eles teimam em manter um corte “moderno”.
Impossível não notar que os cariocas são solidários, que gostam ou precisam ter amigos espalhados por toda cidade.
Passei a semana toda com uma música do Arnaldo Antunes na cabeça:
O seu olhar lá fora
O seu olhar no céu
O seu olhar demora
O seu olhar no meu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
Onde a brasa mora
E devora o breu
Como a chuva molha
O que se escondeu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
O seu olhar agora
O seu olhar nasceu
O seu olhar me olha
O seu olhar é seu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
É, o Rio de Janeiro continua lindo, se você puder ver o que o carioca vê!
Tá, eu andei praticamente todos os dias pela Gávea e sou flamenguista. Meu olhar bem que podia estar “enviesado”, mas foi o que bastou para me dar uma sensação de pertencimento. O Rio é Flamengo. Eu sou Flamengo. Eu estou em casa! Doce ilusão....
O tempo estava chuvoso e eu andei muito de táxi. Ficava sempre olhando pela janela, tentando ver o que a cidade escondia.
Vi o campo do São Cristóvão. Emocionei-me ao ler, pintado no muro: “Aqui nasceu o Fenômeno!”. Semana ruim para o Ronaldo, não se falava noutra coisa. Os travestis davam entrevistas que eu ouvia pelo rádio. O locutor perguntava: “A Senhorita acha que suasss companheirassss de profissão de algum modo prejudicaram asss pessoasss que vivem desssssssse tipo de economia?”. Nos bares e restaurantes todo mundo comentava. Um flamenguista P-da vida esbravejava: “Fiquei irado! O cara vai pra delegacia pagar um mico dessses vestido com a camisa do Flamengo!”. A amiga indignada respondia: “Quiê quuiê isssso! Carioca, de Bento Ribeiro, não saber o que é traveco?”. Ninguém quer ver a imagem de seu ídolo borrada, maculada. Cariocas e brasileiros – estavam todos inconformados, indignados.
Foi uma viagem divertida, eu ria até de mim mesma. Com medo da dengue eu saia do hotel besuntada de repelente, usava botas e dava uma geral nos ambientes onde entrava. Cheguei a pensar se aquela água que fica nos vasos sanitários poderia ser considerada água parada? Cadê coragem de baixar as calças? Vai que o mosquito me pega bem naquela hora.
Pela primeira vez me hospedei em Copacabana. Sempre que eu ia ao Rio meus amigos descolados avisavam: “Não fica em Copa, lá tem muito turista e consequentemente muita prostituta, muito traveco e muito traficante!”.
O que percebi foi que Copa é um bairro de avôs e avós. Por lá eles resolvem tudo a pé. À noite tem mesmo muito de tudo. Chegando ao hotel, ainda dentro do táxi, passando pela beira mar, percebi que, a cada vinte metros, havia um cara usando um uniforme. Eram uns sujeitos sarados, negros, usavam camisas amarelo marca-texto onde se lia em letras pretas: “Experimente!”. Quis perguntar à amiga que estava comigo o que ela achava que eles ofereciam (letra “a” – sexo, letra “b” – drogas, letra “c” – letras “a” e “b” estão corretas), mas não perguntei, fiquei com vergonha do taxista.
Os taxistas mereciam um “post” à parte. A primeira coisa que eles querem saber quando você entra no carro não é para onde você está indo, é se você sabe onde está indo. Não adiantava dizer: “Copacabana, 995”. Eles queriam saber: “Em que altura?”. Eu ficava furiosa! Jesus Cristo – oh Redentor, esses caras não sabem contar? Rapidinho eu aprendi a dizer que era quase Miguel Lemos. Depois me aprimorei: “Entre a Miguel Lemosssss e a XXXXavier da Silveira”. Vocês acham que eles se davam por satisfeitos? Perguntavam: “A Senhora quer ir por onde?”. Minha vontade era dizer... Melhor não dizer...
Invejei as inúmeras salas de teatro, os ingressos bem bem bem mais baratos do que em Brasília.
Notei que as mulheres da minha idade são lindas, usam roupas de gatinha, mas seus rostos mostram que abusaram do sol num tempo em que bronzeador era: óleo de avião, óleo Johnson com urucum ou Rayito de Sol – uma pasta marrom que tinha que ser importada da Argentina. Filtro solar era uma expressão que não fazia parte do repertório das garotas cariocas suíngue sangue bom - ratas de praia. Agora essas senhoras pagam o preço.
Boa parte dos homens de mais de 40 anos andam pelas ruas vestidos como os jovens de 20 - bermudas compridas, tênis. Saíram da praia, mas a praia não saiu deles. Os cabelos ficaram brancos, caíram, mas eles teimam em manter um corte “moderno”.
Impossível não notar que os cariocas são solidários, que gostam ou precisam ter amigos espalhados por toda cidade.
Passei a semana toda com uma música do Arnaldo Antunes na cabeça:
O seu olhar lá fora
O seu olhar no céu
O seu olhar demora
O seu olhar no meu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
Onde a brasa mora
E devora o breu
Como a chuva molha
O que se escondeu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
O seu olhar agora
O seu olhar nasceu
O seu olhar me olha
O seu olhar é seu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
É, o Rio de Janeiro continua lindo, se você puder ver o que o carioca vê!
Um comentário:
Finalmente os bloggeiros desencantaram....tem mais de uma semana que ninguém posta nada!!!
Bem, eu já tentei muito escrever sobre o Rio e a sensação de felicidade inenarrável que me acomete quando estou lá!!! Vc conseguiu traduzir muito...continua lindo, cada vez mais maravilhoso....
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