Fui a Florença em 2006. Fui não, passei correndo. Estava em Roma para um Congresso e corri lá dar uma espiadinha numa coisa. Eu queria ver o David do Michelangelo de perto.
Sempre que eu via alguma foto ou reprodução da escultura, imaginava que o David estava pensando: “Eu vou dar uma pedrada bem no meio da testa desse gigante...”. Para mim, ele parecia ter um olhar que misturava medo e atrevimento, um jeito de adolescente na plenitude de sua força e ainda sem muito juízo, sabe?
Pois bem, cheguei lá na Galeria Accademia de Florença, e fiquei meio abestalhada olhando o David banhado pela luz do sol que passa pela cúpula. A escultura estava limpinha, limpinha, reluzindo. O ar carregado de pó de mármore. A escultura havia passado por um processo de restauração e a sensação que dava era de que Michelangelo acabará de largar o martelo e o cinzel. Coisa de doido.
A escultura é muuuuito mais do que eu tinha imaginado. Ela tem mais de 5 metros de altura, mas me pareceu beeeem maior, ou fui eu que encolhi diante dela, sei lá. Bom, toda a escultura diz: “Eu vou dar uma pedrada na testa desse gigante...” - não é só o olhar. A pedra sorrateiramente escondida na mão, a outra mão pegando a funda discretamente, a sobrancelha desgrenhada, a boca levemente tensionada – tudo é medo e atrevimento, simultaneamente. Cada músculo da coxa mostra isso.
Por que resolvi blogar sobre isso hoje? Anos depois? É que aquela fração de tempo em que tudo pode mudar, aquele segundo, que antecede a queda de Golias ou a iminência da morte de David, mora em nós e sinto que minha hora se aproxima, em breve vou dar uma pedrada na testa de um gigante...
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