domingo, 19 de agosto de 2007

Para sempre

Para Sempre

Por que Deus permite que as mães vão se embora?
Mãe não tem limite, é tempo sem hora,
luz que não se apaga quando sopra o vento e chuva desaba,
veludo escondido na pele enrugada,
água pura, ar puro, puro pensamento. Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça, é eternidade.
Por que Deus se lembra - mistério profundo - de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre junto de seu filho
e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade.




Agosto é o mês dos pais, mas, para mim, é também o mês da mãe. Não há como esquecer que minha mãe era leonina - grande leoa.
Faria 75 anos no dia 14 de agosto, véspera da assunção de Nossa Senhora, por isso – Maria Assumção. Faleceu em 1998 – nove anos já se passaram e eu ainda, vez por outra, feito a Adélia Prado, tenho vontade de gritar: “Eu quero a minha mãe!”.
Estou saindo de férias. No próximo sábado viajo - levo o marido, umas poucas roupas, alguns Euros e o guia da Folha de São Paulo. Há muito queria fazer essa viagem à terra de Cervantes, mas agora o coração está apertado. Deixarei meu filho. A maternidade (e também a crise da aviação brasileira - confesso) me trouxe o medo da morte.
Penso nos versos de outro poeta, Mário Quintana - A Verdadeira Arte de Viajar: "A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa, como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo".
Já consegui viver assim, agora não consigo.
Nesse mês Brasília parece que é ainda mais Brasília – é poeira para todo lado, o céu muito azul, o ar quase irrespirável, os ipês florescem esplendorosamente nessa terra árida, como que a gritar: Que nos importa que tudo esteja seco, estamos vivos!
Isso sim que é coragem!
Meus caros amigos, se Deus quiser: Até a volta!

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Impressionista


Impressionista


Uma ocasião,

meu pai pintou a casa toda

de alaranjado brilhante.

Por muito tempo moramos numa casa,

como ele mesmo dizia,

constantemente amanhecendo.

Adélia Prado


O apartamento em que eu morava quando era solteira tinha paredes alaranjadas, armários azuis, o teto do meu quarto era amarelo, o sofá da sala era verde, o piso da varanda quadriculado - preto e branco. Nunca me esqueço de uma visita que, não conseguindo disfarçar a cara de espanto, perguntou: Almodóvar esteve aqui?
O apartamento em que moro atualmente (foto) não tem tantas cores nas paredes, nem nos móveis, muito menos no chão ou no teto. O que impressiona o meu lar atualmente é o calor da presença do meu marido, o sorriso do meu filho.
Confesso, sinto falta do alaranjado brilhante das paredes da sala, gostava de viver naquele apartamento constantemente amanhecendo (como diria o pai da Adélia). Também sinto falta de ver a cidade ao longe... era um sentimento gostoso de distanciamento, de não pertencimento...

Mas, quem disse que eu quero voltar? enfrentar o trânsito? De jeito nenhum.
Cada vida tem seu preço.

domingo, 5 de agosto de 2007

A madureza, esta horrível prenda...





A madureza, esta horrível prenda...”
Este verso é de Drummond. No livro “Entrevistas de Clarice Lispesctor" descobri que o Tom (Jobim) fez referência e ele em resposta a uma pergunta da Clarice. A poeta queria saber como Tom encarava o problema (grifo meu) da maturidade.
Ele tomou um gole de uísque e respondeu:
- Não sei, Clarice, a gente fica mais capaz, mas também mais exigente.
Concordo com eles. Assim é.
Quando era jovem eu dizia, com voz de desdém, que carro automático era carro de “coroa”, de “tiazona”. Hoje, dirijo um carro automático e, se Deus quiser e assim permitir, carro mecânico - nunca mais!
Como dizem os mineiros: “Ô Trem bão...”