Minha avó faz 100 anos no próximo dia 26 de agosto. A família não agüentou esperar. No último sábado minhas primas fizeram uma grande festa, chamaram todos - netos, bisnetos, tataranetos e amigos de longa data (Ela ainda é amiga de pessoas que foram seus vizinhos há mais de 30 anos!).
Foi uma tarde inacreditável.
Minha avó tem a mente muito ativa. Gosta de ver os telejornais e discute política com uma agilidade de dar inveja. Eu olhava pra ela durante o aniversário e achava difícil acreditar que ela já tenha 100 anos.
Durante a festa percebi que os mais velhos guardam de nós (os relativamente mais novos) uma imagem mental de quando éramos beeem, beeem, mais jovens. Fui tratada como a caçulinha do José, várias vezes.
As pessoas paravam minha sobrinha e perguntavam se ela era a mãe dela e eu travei longas conversas como se fosse minha irmã mais velha, antes de criar coragem para desfazer o engano.
Outra descoberta foi a seguinte: tem gente que melhora com o tempo (minhas primas estão mais belas a cada ano), tem gente que nem tanto, mas o que você sente quando era criança diante de uma pessoa, raramente muda.
Minha mãe tinha uma amiga, Dona Nini, que hoje deve estar com uns 75 anos - ou seja, quando eu era pequena ela devia ter uns quarenta anos. Eu a achava M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A! Ela era uma mulher elegantérrima. Eu ficava hipnotisada pelas jóias que ela usava. Adivinhem como ela estava na festa? Chiquérrima! Dona Nini usava jóias belíssimas, modernas, e se sentava à mesa com a mesma elegância, inúmeras vezes lembrada por minha mãe quando queria que eu me comportasse durante uma refeição. Para mim não houve sequer uma leve mudança. Ela é a mesma. Sei que não é. Sei que o tempo passou, que ela se despediu de muitas pessoas queridas de lá para cá, e que isso deixa sim marcas no coração e no corpo. Mas os gestos, a voz baixa, pausada, estão eternizados em minha mente – imutáveis.
Fiquei um bom tempo olhando para outra comadre da minha mãe, minha tia Maria Olívia. Ela está com mais de 80, com certeza, mas eu também só conseguia me lembrar de como ela e minha mãe conseguiam ficar horas, horas e horas conversando e rindo sem parar. E lá estava ela na festa, sempre querendo engatar uma boa conversa. Ali estava outra mulher excepcionalmente refinada na minha mente. Eu só conseguia me lembrar de como eu ficava espantada quando a via comendo sanduíches com garfo e faca. Nem um tomate, nem uma folhinha de alface - ousava sair do lugar. Mulher de governador, depois mãe de senador, andava de um lado a outro do estado do Acre fazendo campanha – em cima do salto! Gente, vocês não tem idéia do calor e dos lugares onde ela se metia!
Estava pensando nisso quando cheguei em casa, liguei a TV e ouvi a propaganda da Revista Boa Forma deste mês: “Tânia Kalil revela seus segredos para chegar aos 32 em boa forma”. Tomei até um susto! Fala sério, quem precisa de um truque para ficar bela com 32 anos?
Quem tem segredos de beleza a revelar é minha Tia Maria Olívia, é Dona Nini, é Dona Maria Alaíde – minha avó centenária. Elas souberam envelhecer honrando suas histórias de vida – isso é que belo!
Na foto Vovó Maria pergunta à tataraneta Giulia - minha sobrinha-neta (é, eu sou tia-avó): Quantos anos você tem?
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