domingo, 4 de outubro de 2009

Sobre quebra-cabeças...


Meu filho Mateus adora quebra-cabeças. Ainda bebê, começou com os de peças gigantes, de madeira, que eu comprava na Feira dos Importados. Depois, passou para os de peças quadradas, próprios para crianças pequenas e, logo depois, ele já estava montando os de 25 peças, os de 50, os de 100, os de 150, os de 500, os de 1500.
Lógico que eu tenho que ver, que ajudar, que não deixar ninguém mexer... coisas de mãe, de parceira, de fã. Durante a execução destas “tarefas”, comecei a pensar nas semelhanças que existem entre um quebra-cabeça e a vida.
Em um quebra-cabeça cada peça é parte muito importante no grande quadro. Na vida, cada pessoa, cada acontecimento monta nossa história.
Como peças de um quebra-cabeça, cada um de nós é único, especial, tem seu próprio jeito. Embora sejamos semelhantes, não há duas pessoas iguais. Ironicamente são nossas diferenças que nos fazem “encaixar”.
Um dia vi que o Mateus cismou que havia uma peça que pertencia a um lugar em particular. “Mãe essa eu sei que é parte do Tai Lung!” (Tai Lung é o leopardo da neve do filme Kung-Fu Panda). Só que ele tentava e não encontrava um lugar pra ela. Deixava a peça de lado, depois tentava outra vez, e nada. Passava um tempo, ele esquecia que já havia tentado, tentava outra vez. Ele estava focado, certo do fato de que a peça era daquele espaço.
Pensei em quantas vezes eu fiz a mesma coisa em minha vida, tentando fazer acontecer coisas que simplesmente não eram para ser. Nada do que eu fiz mudou isso.
Eu vi também que muitas vezes perdemos um tempo danado procurando um pedaço específico (o cara certo/a mulher certa, o melhor emprego/o melhor lugar para trabalhar, o apartamento/a casa ideal, a cidade perfeita para morar).
O Mateus um dia disse: “Mãe, agora eu vou achar o pé do Bumblebee (Transformers), não é possível que eu não ache! Ele é amarelo!”. Ele virou, mexeu, embaralhou ainda mais as peças. Não achou. Ficou P. da vida! Acusou a faxineira de ter mexido na mesa para limpar, de ter jogado a peça no lixo. Revirou a caixa do jogo de cabeça para baixo. Nada. Aí ele foi ao banheiro, e quando voltou achou imediatamente a peça.
Tenho enorme respeito pelas peças que me montaram como eu sou hoje. Morro de saudades do meu quarto na casa dos meus pais, do meu apartamento no Guará, das dores e alegrias da minha vida de solteira. Mesmo que eu tenha tentado forçar a barra e colocar peças em um lugar em que não cabiam, elas acabaram por se encaixar em outro ponto e lá, tem sua importância.
A diferença entre quebra-cabeças e a vida é que: os quebra-cabeças têm uma forma fixa, a gente monta, desmonta, remonta e o quadro montado é sempre o mesmo. Na vida, não. Quando a vida é "remontada", revista, tudo pode ganhar outro significado. Uma peça que se encaixou em um lugar por um tempo, pode, em outro, não se encaixar mais. Você pode olhar para pessoas e acontecimentos em sua vida “N” vezes e a cada hora ver coisas que não via antes.
Mas, de qualquer modo, precisamos buscar dar sentido ao todo. Ainda que esse sentido possa mudar o tempo todo.
“Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. ‘Quem sou eu no mundo?’ Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.”
(Paulo Mendes Campos, em Para Maria da Graça).

Um comentário:

Christiane disse...

Oi Daniella,
Obrigada pelo convite!
Adorei o seu blog! Que legal você ter esse espaço... parabéns!
E que bom saber que você gostou do meu também... será sempre bem vinda!
Beijos e ótimo final de semana (e feriado),
Chris