Na véspera do dia das crianças, na fila do caixa das Lojas Americanas, inevitavelmente, escutei um casal conversando. O marido perguntou: “Sabe qual é a Barbie mais cara que existe?”. A resposta veio em seguida, sem nem dar tempo para a esposa pensar: “É a Barbie divorciada, que vem com a casa, a cama, o armário, a cozinha, a piscina, o carro, o cavalo e até com o avião do Ken!”.
Não achei lá muita graça, mas a piada me fez pensar na Barbie. Ela é mesmo uma boneca diferente, parece que nunca está completa. Os fabricantes estão sempre lançando um novo “complemento”. E nem adianta comprar o novo objeto, logo haverá um outro a ser comprado. É como a cenoura na frente do burro... nunca será comida. Esta pitada de infelicidade que acompanha a Barbie é a regra fundamental da sociedade consumista: é preciso que as pessoas não se sintam felizes com o que têm para que trabalhem e comprem aquilo que não têm.
Mãe, compra pra mim... Eu quero tanto!” E lá estamos nós, pais e filhos, presos numa arapuca consumista. Em uma antiga propaganda, um garotinho sorridente mostrava a tesoura do Mickey em sua mão e falava a um outro, que estava triste e cabisbaixo: “Eu tenho, você não tem!”. Desde pequenos somos induzidos a pensar que estamos infelizes porque não temos algo. Se tivéssemos, seríamos felizes. O jeito de ser feliz é comprando.
A verdade é que as crianças pequenas são capazes de se alegrar com brinquedos que não são como a Barbie. Elas se alegram jogando dominó, empinando pipa, fazendo bolinhas de sabão ou comidinhas de faz-de-conta. As crianças pequenas divertem-se com coisas simples porque para elas tudo é espantoso: uma nuvem, um ovo, uma pedra, uma minhoca. Elas têm os olhos dotados daquela qualidade que para os gregos era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante do banal. Elas vêem coisas que nossos olhos adultos já não vêem.
A saída para a arapuca do consumismo talvez seja essa – voltar a ver o mundo com olhos de criança que ainda não pede a Barbie, colocar nossa felicidade bem ao alcance das nossas mãos. Acho que era isso que a Adélia Prado queria quando rezou: “Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande...”.
Nietzsche sugeriu que “a maturidade de um homem é encontrar de novo a seriedade que tinha quando criança, brincando”. O centro da filosofia de Nietzsche é o retorno à infância. Segundo ele, nossa trajetória começa como camelos, animais de carga, que obedecem à voz do dono. Depois, passamos por uma primeira metamorfose, o camelo transforma-se em leão, guerreiro, dono de sua vontade. Por fim, uma última mudança ocorre: para que a vontade do leão se realize, ele se transforma em criança, que só faz brincar.
São muitos os estudos da psicologia das crianças. Estudamos as crianças para ensiná-las a viver no mundo adulto. É uma pena que não existam estudos com o objetivo contrário: ensinar aos adultos a maneira de ser das crianças, que colocam sua felicidade no ser e no fazer, não no ter.
Mãe, compra pra mim... Eu quero tanto!” E lá estamos nós, pais e filhos, presos numa arapuca consumista. Em uma antiga propaganda, um garotinho sorridente mostrava a tesoura do Mickey em sua mão e falava a um outro, que estava triste e cabisbaixo: “Eu tenho, você não tem!”. Desde pequenos somos induzidos a pensar que estamos infelizes porque não temos algo. Se tivéssemos, seríamos felizes. O jeito de ser feliz é comprando.
A verdade é que as crianças pequenas são capazes de se alegrar com brinquedos que não são como a Barbie. Elas se alegram jogando dominó, empinando pipa, fazendo bolinhas de sabão ou comidinhas de faz-de-conta. As crianças pequenas divertem-se com coisas simples porque para elas tudo é espantoso: uma nuvem, um ovo, uma pedra, uma minhoca. Elas têm os olhos dotados daquela qualidade que para os gregos era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante do banal. Elas vêem coisas que nossos olhos adultos já não vêem.
A saída para a arapuca do consumismo talvez seja essa – voltar a ver o mundo com olhos de criança que ainda não pede a Barbie, colocar nossa felicidade bem ao alcance das nossas mãos. Acho que era isso que a Adélia Prado queria quando rezou: “Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande...”.
Nietzsche sugeriu que “a maturidade de um homem é encontrar de novo a seriedade que tinha quando criança, brincando”. O centro da filosofia de Nietzsche é o retorno à infância. Segundo ele, nossa trajetória começa como camelos, animais de carga, que obedecem à voz do dono. Depois, passamos por uma primeira metamorfose, o camelo transforma-se em leão, guerreiro, dono de sua vontade. Por fim, uma última mudança ocorre: para que a vontade do leão se realize, ele se transforma em criança, que só faz brincar.
São muitos os estudos da psicologia das crianças. Estudamos as crianças para ensiná-las a viver no mundo adulto. É uma pena que não existam estudos com o objetivo contrário: ensinar aos adultos a maneira de ser das crianças, que colocam sua felicidade no ser e no fazer, não no ter.
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