domingo, 7 de junho de 2009

Do baú - Ano Novo, vida nova, mas... calçando sapatos antigos?




















Texto retirado do baú - escrito para publicação na Revista Destaque em janeiro de 2005.



No fim de 2004 tive que explicar a meu filho o que penso que seja o reveillon - uma das difíceis tarefas da maternidade e da paternidade, ajudar na construção de conceitos.
Penso que o reveillon seja a celebração da passagem do tempo. A passagem do tempo nos diz que mais um pedaço da vida se foi, celebramos nossas conquistas, avaliamos nossas perdas, sonhamos com o que pode ser o futuro. Foi assim em 2004, desejo que seja assado em 2005...



No início de cada ano não raro escutamos alguém dizendo: “Ano novo, vida nova!”. O desejo de mudança está sempre presente na celebração do ano novo.

Muitas pessoas até escrevem uma lista de boas intenções: parar de fumar, fazer ginástica, caminhar, meditar... A verdade é que grande parte dessas pessoas acaba não efetivando essas mudanças, a despeito da passagem do tempo e de suas intenções mais honestas. Passadas as festas, a vida continua praticamente a mesma de sempre.
O que é preciso para que uma mudança realmente ocorra? Por que é tão difícil mudar? “Querer é poder”, dizem alguns, mas sabemos que só querer não é o bastante.
Querer é apenas um passo. Para ser alguém novo, modelo 2005, é preciso que, de alguma forma, o jeito de ser e de viver em 2004 morra. Somente haverá vida nova se tivermos a graça de esquecer o que fomos sempre. Aí reside a dificuldade!
Em artigo publicado no Jornal Correio Popular, o psicanalista Rubem Alves abordou de forma muito interessante o tema da transformação. Transcreverei a seguir um trecho do artigo, com a expectativa de que ao menos ele nos propicie alguma reflexão, nos auxiliando a efetivar as mudanças desejadas:
“As cigarras passam a maior parte de suas vidas debaixo da terra, alimentando- se das raízes das árvores. Disseram-me que há certas espécies de cigarras que chegam a viver 15 anos debaixo da terra. De repente, alguma coisa acontece, e surge dentro delas um impulso irresistível para mudar. Saem então dos seus túneis, sobem pelos troncos das árvores, arrebentam suas cascas, subterrâneas gaiolas, e se transformam em seres alados. Se elas não abandonarem suas cascas não se transformarão em seres alados. Continuarão a ser seres subterrâneos. Nossos demônios são nossas cascas. Abandonar as cascas é esquecer a forma subterrânea de ser. A grande transformação das cigarras acontece quando a morte se aproxima. É a proximidade da morte que lhes diz: ‘Chegou a hora de voar, cantar e fazer amor, para continuar a viver...’ Eu acho que a morte é o único poder capaz de nos trazer vida nova. A consciência da morte nos força a sair de nossas sepulturas, nos dá asas, nos convida a voar e a amar.”


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