sábado, 7 de julho de 2007

Procurando chifre em cabeça de cavalo (19 de junho de 2007)



Um dia... pronto!... me acabo.
Pois seja o que tem de ser.
Morrer: que me importa?
O diabo é deixar de viver!

Mario Quintana
Chegada a hora de fazer seus exames periódicos de saúde, percebi que, de início, fiquei arranjando mil desculpas para não marcar logo a consulta inicial – “Essa semana é impossível!”, “Isso vai virar minha vida de pernas para o ar!”. Quando finalmente consegui marcar a tal consulta, faltei. Depois remarquei, fui, mas se atrasei. Na semana seguinte perdi os pedidos de exames, demorei uns dois dias para localizá-los - hemograma completo, mamografia, ecografias mamária e transvaginal, densitometria óssea e mais o encaminhamento para o ginecologista. Pode até não parecer muita coisa, mas, para mim, era. Só pensava na osteoporose da minha mãe, do AVC da minha irmã, no câncer de mama da minha outra irmã, nos meus fibroadenomas... Em fim, estava com medo. Medo de descobrir-me doente. Medo de confrontar a possibilidade de morrer.
“O medo é a presença do terrível-não-acontecido, se apossando da nossa vida”, escreveu Rubem Alves. Pode ser que apareça alguma coisa nos exames. Pode. Entretanto, ainda não apareceu e nem sabemos se aparecerá. Contudo, lá estava eu, paralisada de medo.
Já escutei algumas pessoas falando: “Para que fazer exames quando a gente está bem? Essa coisa de prevenção é invenção de médicos, hospitais e laboratórios para ganhar dinheiro! Eu não fico procurando chifre em cabeça de cavalo... Quem procura, acha!”. Eu penso é que quem procura, se não tem, não acha. E se tem, acha e trata, com muito mais chance de sucesso. Mas, na hora do “vamô ver como é que fica...”, o buraco é mais embaixo...
O medo não é uma perturbação psicológica, é parte de nossa alma. O que devemos observar quando temos medo é se, por causa dele, nos encolhemos, nos escondemos, rastejamos, ou corremos o risco, nos atiramos, voamos. O passarinho que por medo do gavião se recusasse a sair do ninho, já teria perdido a própria vida. O medo lhe teria roubado o que de mais precioso existe na vida de um pássaro – o vôo. Quem por medo da morte, prefere fugir, já, neste ato estará morto. O medo lhe terá roubado o que de mais precioso existe na vida humana: a capacidade de se arriscar para viver plenamente o que se ama.
Nós, humanos, somos os únicos animais a ter prazer no medo. Ficamos nas manhãs de domingo extasiados diante da TV assistindo às corridas de fórmula 1 - homens dirigindo em alta velocidade, passando a poucos centímetros de muros, fazendo curvas acentuadas, freando bruscamente. É de dar medo...
Soube que Viviane Senna após ter perdido o marido e o irmão em acidentes, temia que o filho também retomasse sua carreira automobilística. E foi exatamente o que aconteceu. Um dia ele disse: “Mãe, é isso que eu quero. Preciso voltar a correr”.
Quem, a despeito do medo, se arrisca e escolhe a vida, triunfa sobre a morte. Morrerá quando a morte vier e não antes. Coragem não é ausência de medo, é viver a vida aceitando o risco da morte, a despeito do medo.
E lá vou eu... fazer o quê?
Mamografia!!!

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